JORGE FERREIRA

Tuesday 7 February 2017


(Imagem via Facebook Jorge Ferreira)


Quando me sugeriram o nome do Jorge para este meu projecto achei que fazia todo o sentido. Foi quase como "um regresso às origens" e, em seguida, explico porquê...

Comecei o meu percurso profissional a sério - mais puro e duro, digamos - na empresa portuguesa de acessórios, Parfois. Primeiro como assistente de compras e depois como compradora. Nessa altura, e durante os dois anos e meio em que lá estive, ouvia falar imenso "num tal de Jorge Ferreira", designer, que tinha saído pouco antes da minha entrada. Da maneira como toda a gente falava dele - com boa-disposição, carinho, admiração, respeito, saudade - fiquei com imensa pena de não termos coincidido a trabalhar. Bem, anos se passaram e eis que surge a oportunidade de o conhecer pessoalmente e de o entrevistar. Sim, porque apesar de termos alguns amigos em comum, nunca nos tínhamos sequer cruzado, acho... Afinal o Porto (e o Norte) não é assim tão pequeno!

Foi um prazer enorme conhecer uma pessoa tão talentosa, com tanto mérito e, ao mesmo tempo, tão descontraída, divertida e terra-a-terra.

Venham comigo conhecer o Jorge Ferreira, designer da Vicri, e um pouco do seu lado mais privado.



(Imagem: Paula Neves de Carvalho)


Fala-nos um pouco sobre o teu percurso profissional, nomeadamente do teu trabalho, actualmente, na Vicri.
Trabalhei em algumas empresas conhecidas do panorama nacional e internacional como Parfois, Silva&Sistelo e, desde 2008, sou o responsável de design da portuguesa Vicri. Esta marca - que faz parte do grupo Têxtil Riopele - surgiu no mercado há mais de 15 anos, primeiro com uma colecção de gravatas e camisas, evoluindo depois para um conceito de look total, dos fatos aos blazers, passando pelas calças, sapatos, malhas e acessórios. Destaca-se pelo requinte dos pormenores, pela qualidade dos tecidos e pelo design único e inovador, destinando-se a um homem moderno e sofisticado. É o clássico aliado ao arrojado.
No início, por ter uma identidade bastante original - que está no limiar da extravagância - custou-me um pouco "a encaixar", ainda por cima porque eu vinha de algo extremamente formal e passei para o "fora da caixa". Há ali um período em que te custa a adaptar, embora eu tenha tido a sorte de trabalhar com pessoas que lidaram directamente com quem criou o conceito - o senhor Pinho Vieira. E trabalharam com ele dezoito anos! Consegui assim, apesar de não o ter conhecido, perceber de onde tinha nascido a ideia e quais eram as linhas pelas quais ele se regia.
Depois, foi uma aprendizagem ao longo do tempo, adaptando as peças às necessidades do mercado... Da influência italiana (mais tradicional) - nos materiais, cores e cortes, essencialmente - passámos a ter peças mais desportivas. Embora sejamos conhecidos pelas peças mais vanguardistas - já que são as mais usadas pelas pessoas da televisão, nomeadamente uma em especial, bem conhecida do grande público - temos uma grande variedade em termos de oferta.

Em que ponto pensas estar, hoje em dia, a moda portuguesa?
Penso que a moda tem duas vertentes fundamentais: a moda-negócio e a moda-artística. Actualmente, apesar de a moda ser cada vez mais um negócio, receio que se esteja a enveredar muito pelo lado artístico, esquecendo-se o fundamental... A moda tem que vender!
Por exemplo, a meu ver, as escolas de moda deveriam preparar os seus alunos não só para serem criadores, mas para serem também gestores.

Descreve o teu estilo em três palavras.
Low profile, detalhista e confortável.

E agora define, por favor, as tuas criações também em três palavras.
Irreverentes, diferentes e luxuosas.

O que consideras ser o maior erro que alguém pode fazer ao vestir-se?
Tentar agradar aos outros!

Quem são os teus ícones de eleição?
Tom Ford!

Quais são os teus tecidos preferidos?
Lãs e sedas.

Há alguma combinação de estilo que consideres ser a fórmula para o sucesso?
Actualmente, a tendência athleisure (desportiva) misturada com o clássico.

Qual a cidade que tem os homens mais bem vestidos?
Milão!

Dirias que és - tu e o teu trabalho - conservador ou arrojado?
Uma mistura equilibrada entre os dois.

Segues alguma regra na hora de te vestires?
Não.



(Imagem: Paula Neves de Carvalho)


Há alguma celebridade (nacional ou internacional) que gostasses de vestir?
Mulheres - Emma Stone.
Homens - Eddie Redmayne; Bradley Cooper; Adam Levine; Albano Jerónimo; Diogo Infante.

Qual o ítem (roupa ou acessório) que nunca tens demais?
T-shirts e pólos.

Um homem deve sempre parecer...
Elegante.

Quem te ensinou tudo o que sabes sobre estilo?
Não foi uma pessoa só, foram várias... Mas as mais importantes foram o senhor Pinho Vieira (embora, como já disse, não o tenha conhecido pessoalmente) e o Luís Sistelo. Mais recentemente, talvez o Nélson Vieira - stylist - com quem tenho tido oportunidade de trabalhar na Vicri.

Como seleccionas a tua roupa, pela manhã?
Escolho sempre a roupa na noite do dia anterior (tenho um péssimo acordar!).

Qual o teu maior arrependimento?
Não tenho nada de que me arrependa. Sou ponderado, de uma maneira geral, e talvez isso ajude...

Três coisas essenciais que um homem deve saber sobre estilo...
Primeira: nunca se aperta o 2.º botão do blazer; segunda: deve coordenar-se a largura da gravata com a altura do colarinho; terceira: quando se estiver sentado, deverá sempre desapertar-se o blazer!

Tens algum ritual em termos de shopping?
O mais depressa possível! Ahahah! Ah, e tenho que estar concentrado (para ser mais rápido!).

O que nunca te vão ver a usar?
Dourado! E bege. Odeio bege!

A pessoa com mais estilo que alguma vez viste foi...
Várias pessoas, em viagens, por exemplo... Pessoas que têm certos apontamentos no seu guarda-roupa, normalmente, destacam-se.
Mas em termos de nomes conhecidos posso dizer alguns, que considero terem bastante estilo: Pedro Crispim; Manuel Luís Goucha, que dentro do seu estilo exuberante, é elegante; João Moleira; João Adelino Faria...

Quais os designers que segues e porquê?
Ultimamente, tenho estado bastante atento ao trabalho do Alessandro Michele, na Gucci, porque trouxe peças que já existiam, apresentando-as de uma forma que toda a gente quer usar. São misturas irreverentes, que funcionam! Conseguiu dar a volta a uma casa que estava bastante em baixo, encarando a moda como um escape para as pessoas, em tempos de crise.
Depois, o kaiser Karl Lagerfeld, que ao fim de tanto tempo consegue manter-se fiel a si próprio e às casas que representa, apresentando sempre ideias novas.
Jil Sander e o seu conceito depurado, limpo.
E, por último, destaco a Miuccia Prada pela interpretação que faz das tendências, sem chocar.

Quais os tesouros mais bem guardados do teu armário?
As minhas gravatas! Tenho uma colecção considerável, embora raramente use gravata. Gosto especialmente de uma, em seda, que trouxe de Itália. É toda texturada (por ser prensada a quente), super delicada, uma verdadeira relíquia!
E depois relógios e sapatos, sendo estes últimos, acessórios pelo quais tenho uma verdadeira "panca"!

Achas que conforto poderá ser inimigo de estilo?
Não. Desde que se escolha bem as peças, nomeadamente os tamanhos correctos, está tudo bem.

Que casa de moda nunca decepciona?
Tom Ford! E, neste momento, a Gucci.

Que nome sugeririas para um próximo 'People' deste atelier digital?
Há vários nomes que te posso sugerir, nomeadamente alguns do mundo da Moda, por ser um meio que conheço bem, claro! São eles: Mauro Lopes (manequim); Vasco Freitas (cabeleireiro); Celso Viana (manequim); Miguel Vieira (designer); Maria Clara (manequim); Rúben Rua (manequim, actor e apresentador).

Fica a dica! 😉

Agradecimentos: ao Jorge, que desde o primeiro até ao último instante, se mostrou sempre simpático e o mais disponível possível para a realização deste trabalho. À minha tia Paula Neves de Carvalho, que além de ter proporcionado também este encontro, ainda serviu de fotógrafa 😊. Muito obrigada aos dois!





(Imagem via Facebook Jorge Ferreira por Cassiano Ferraz)

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